O efeito final de uma substância ministrada a um paciente pode ser modificado e determinado pela expectativa do próprio paciente em relação ao tratamento. Dessa forma, o contexto psicossocial que envolve o paciente no período de tratamento pode ser determinante para sua eficácia. Partindo desses fatos, pode-se definir o efeito placebo como a melhoria do quadro sintomatológico de um paciente em resposta a fatores aparentemente inertes do ponto de vista biológico.
Estudos atuais sobre o efeito placebo têm indicado que existem bases fisiológicas para a explicação de sua ocorrência no organismo, de forma a ter forte influência no estabelecimento da homeostasia corporal. Sabe-se que mesmo substâncias inertes do ponto de vista estrito (soro fisiológico, comprimidos inertes) ou o contexto psicossocial do paciente (crença, valores e expectativas) podem gerar uma resposta biológica. Exemplos desse real mecanismo neurobiológico desse efeito são, por exemplo, substâncias placebo que atuam em mecanismo para analgesia ativando respostas opioides ou não-opioides do organismo de forma a ter, nesse caso, ação analgésica.
Existem outros estudos que também demonstram evidências científicas do funcionamento do placebo em termos neurobiológicos como no caso da doença de Parkinson. Nesse estudo, foi administrado um placebo para um grupo de pacientes com a doença de Parkinson, dizendo-lhes que se tratava de uma droga anti-parkinsoniana. Após isso, foi realizado com esses pacientes o procedimento DBS (deep brain stimulation), no qual se estimulava a resposta da região subtalâmica do cérebro por intermédio de eletrodos devidamente implantados. Nesse exame, foi identificada uma diferença com relação à melhora na velocidade de movimentação das mãos entre os pacientes que tinham boas expectativas com relação ao tratamento e os que não tinham: aqueles que tinham uma boa expectativa tiveram uma melhora mais evidente do que aqueles que não tinham. É válido ressaltar que foi realizada, inclusive, uma PET que indicou um real aumento da liberação de dopamina no cérebro daqueles pacientes com boa expectativa com relação ao placebo.
Dessa forma, pode-se perceber que a perspectiva de que o efeito placebo equivale a nenhum efeito, de fato é equivocada. A neurobiologia do efeito placebo tem sido profundamente estudada nas últimas décadas de forma a criar evidências de que é um evento com intercorrências fisiológicas para organismo, podendo, portanto, fazer parte do processo de cura.
Bom, agora vocês devem estar se perguntando qual a importância disso para a medicina homeopática, certo? Achamos importante tratar desse assunto aqui no blog, pois nota-se que ainda prevalece em diversos lugares (inclusive no meio médico!) a visão errônea de que a homeopatia não passa de uma ciência que visa à administração de placebos aos pacientes.
Para a compreensão da análise que será feita a seguir sobre esse tema, é preciso relembrar, em parte, os objetivos da medicina homeopática: a homeopatia visa a uma perspectiva humanística e antropológica do paciente, de forma a estabelecer uma observação holística do enfermo; por conseguinte, a análise semiológica é feita de maneira ampla e complexa, com o intuito de ampliar o número de informações para o estabelecimento do fármaco mais adequado para cada paciente especificamente. Dessa forma, é lógico concluir que o vínculo médico-paciente torna-se mais vigoroso, o que pode ter intercorrências psicológicas para o paciente, de modo a aumentar suas expectativas positivas com relação ao tratamento que será recomendado. Como foi dito anteriormente, isso pode promover o efeito placebo, otimizando o processo de cura.
Todavia, é de grande valia ressaltar que o fato de o efeito placebo estar envolvido nas abordagens clínicas homeopáticas não implica sua exclusividade nessa modalidade de prática médica: cerca de 20 a 30% da resposta aos medicamentos homeopáticos é incrementada pelo efeito placebo, porém porcentagens muito mais expressivas dessa resposta são de responsabilidade do próprio medicamento (Teixeira, 2008). Dessa maneira, é incorreta a proposição comumente feita, pois grande parte do efeito dos tratamentos homeopáticos decorre da própria ação do medicamento em si no organismo e não apenas do efeito placebo.
Agora que conhecemos o conceito do efeito placebo e seus possíveis agentes, vocês acham que se trata de um fenômeno exclusivo para a medicina homeopática?
Não, ele não é! Um estudo realizado por Teixeira (2008) mostrou que o efeito placebo também ocorre nos tratamentos alopáticos, sendo, portanto, também relevante no processo de cura por intermédio desses medicamentos. Esse autor demonstrou por meio de metanálises de ensaios clínicos placebo-controlados, por exemplo, que pacientes com fadiga crônica tiveram 19,6% de melhora no seu quadro clínico devido ao efeito placebo (Teixeira, 2008). Os resultados completos desse estudo podem ser encontrados nas referências do post!
Bem, falamos até agora apenas dos efeitos positivos de substâncias inertes e do contexto psicossocial do paciente (efeito placebo) durante os tratamentos médicos. Será que existem efeitos adversos? Esse será o tema do nosso próximo post. Não percam! Até mais!
Por Sabrina Brant Pereira de Jesus
Referências:
Teixeira MZ. Pesquisa clínica em homeopatia: evidências, limitações e projetos. Pediatria. São Paulo. 2008; 30(1):19-23. Retirado de http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1248.pdf em 17 de novembro de 2011.
Benedetti F, Mayberg Hs, Wager TD, stohler Cs, Zubieta JK. Neurobiological Mechanisms of the Placebo Effect. J Neurosci 2005;25:10390-402.
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