quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Homeopatia e Tratamento da Asma Infantil – Aconitum

Olá, pessoal! Estou aqui para falar para vocês sobre um dos medicamentos utilizados no tratamento da asma infantil por meio da medicina homeopática. É sempre bom conhecer um pouquinho mais dos mecanismos dos medicamentos em nível celular/molecular para compreender, portanto, seu efeito sistêmico. Tendo isso em vista, farei uma abordagem bem minuciosa desse assunto. Espero que vocês gostem! J

            A asma é caracterizada como uma doença crônica e inflamatória na qual é comum a obstrução das vias aéreas em decorrência do contato com algum agente externo que desencadeie uma reação alérgica e, consequentemente, imunológica exagerada (crise), sendo mais comum durante a infância. A asma pode estar estabelecida em dois diferentes estados patológicos: fora da crise (crônica) ou em crise. Geralmente, o quadro crônico da doença se estabelece após recorrentes crises. Existem variadas alternativas para o tratamento da asma, dentre as quais serão citadas a estratégia alopática e a homeopática, dando-se foco à última.
            A medicina tradicional, ou alopática, vale-se de medicamentos convencionais que visam ao tratamento dos sintomas da doença. Dentre esses remédios têm-se, como exemplos, os broncodilatadores e os corticoesteroides, que objetivam, respectivamente, combater o sintoma da falta de ar e combater a inflamação crônica, tentando reduzir a reação imunológica do enfermo ao alergênico.
            A medicina homeopática, por sua vez, vale-se de seus princípios e propõe uma diferente abordagem para o tratamento da doença. Sabe-se que os medicamentos homeopáticos são escolhidos de acordo com uma observação semiológica muito ampla e minuciosa sobre o paciente e seus sintomas de forma a ser o mais adequado para a situação tratada.
            No quadro crônico da doença o médico homeopata, geralmente, utiliza alguns dos seguintes medicamentos, ditos medicamentos de fundo: Nux vômica, Hepar sulphur, Baryta carbônica, Kali carbonicum, Lycopodium clavatum, Natrium sulphuricum. Por outro lado, no quadro de crise asmática, os remédios comumente utilizados são: Aconitum nappelus, Sambucus nigra, Arsenicum álbum, Ipeca, Spongia tosta, Bryonia alba, Dulcamara, Blatta orientalis, Kali bichromicum.
            Nesse post iremos abordar os mecanismo envolvidos no uso do remédio Aconitum nappelus.
Figura 1 - Aconitum napellus
                              
            Aconitum nappelus (figura 1) é uma planta venenosa comumente utilizada na confecção de medicamentos homeopáticos que tem como um de seus princípios ativos o alcaloide aconitina (figura 2). Essa é uma droga neurotóxica altamente letal para o organismo
Figura 2 - Aconitina
 por causar a paralisação da musculatura estriada esquelética e cardíaca, causando efeitos fisiológicos fatais como arritmia cardíaca seguida de parada cardíaca, alteração do controle da respiratório (efeitos no centro bulbar), parestesia na língua, na boca, nos lábios, na face e na garganta, sudorese, dentre outros. Todas essas alterações são ocasionadas pela modificação no controle de abertura dos canais de cálcio voltagem-dependentes da membrana celular nos tecidos nervoso e muscular.
E como isso ocorre?
Figura 3 - Potencial da Membrana
            O mecanismo normal de transmissão nervosa ocorre da seguinte maneira: inicialmente a membrana se encontra no estado de repouso, período no qual ocorre funcionamento normal da bomba de sódio e potássio que gera a diferença de potencial característica desse estágio;  a membrana, é retirada do seu estado de repouso, passando a se apresentar despolarizada devido a um influxo de íons sódio (Na+) pelos canais de sódio voltagem-dependentes estimulados por um elemento externo; após um curto período de tempo, os canais de potássio se abrem e os de sódio se fecham, permitindo um efluxo de íons potássio (K+), repolarizando a membrana (respondem ao mesmo estímulo que os canais de sódio, porém de maneira mais lenta); o fechamento dos canais de potássio ocorre de maneira mais lenta e, dessa forma, evidencia-se uma hiperpolarização da membrana; depois de mais um curto espaço de tempo, a membrana volta ao estado de repouso com a regulação do fechamento dos canais iônicos e retorno do funcionamento da bomba de sódio e potássio (figura 3).
            O mecanismo de atuação do alcaloide aconitina no fechamento dos canais de sódio (glicoproteínas heteroméricas presentes na membrana de células de tecidos excitáveis tal qual o tecido nervoso ou o tecido muscular) foi explicado por Wang SY e Wang GK em um artigo publicado em fevereiro de 2003 (artigo nas referências) e ele consiste no processo descrito a seguir.
Figura 4
            O efeito da aconitina nessas células e no organismo é provocado pela interferência dessa substância no controle do tempo de abertura desses canais de sódio (figura 4). A aconitina promove uma abertura prolongada dos canais de sódio o que promove uma despolarização exagerada da célula de modo a retirá-la do seu potencial de repouso por um tempo maior que o convencional. Isso é feito por uma mudança estrutural dessa proteína de membrana, devido ao impedimento de seu retorno à sua conformação inativa pela ligação da aconitina ao sítio 2 para neurotoxinas na subunidade alfa do canal proteico. Com essa despolarização prolongada das células, leva-se a um impedimento da propagação do potencial de ação e também da excitação das células-alvo.
            Os efeitos desses fenômenos podem ser descritos especificamente para o caso da musculatura e para os neurônios:
·      Musculatura: a contração muscular é potencializada pela ação da aconitina (abertura excessiva dos canais de sódio = período de hiper-excitabilidade celular), que mobiliza os canais de cálcio e promove, em seguida o colapso e a parada do músculo (excesso de cálcio = período refratário);
·      Neurônios: nesse caso, o excessivo influxo de sódio também promove um influxo exagerado de cálcio o que resulta no efeito de estimulação da liberação de vesículas com neurotransmissores para a sinapse, o que terá efeitos variados para o neurônio pós-sináptico e que irá gerar os efeitos fisiológicos supracitados como os de alterações no controle respiratório por modificações no centro respiratório bulbar e sudorese (figura 5).
Figura 5 - Sinapse

            Tendo em vista, portanto, os efeitos fisiológicos provocados pela aconitina, é possível concluir que esse é um bom medicamento homeopático para o combate à asma, aplicando-se ao princípio essencial da homeopatia: “a cura pelo semelhante” (releia o post Os Princípios da Homeopatia). É sempre válido lembrar que esses efeitos da aconitina ocorrem quando em doses suficientemente altas, não estando ainda comprovado que sua ação também ocorre quando administrada nas concentrações diminutas dos medicamentos homeopáticos.
Continuem apreciando nosso blog! Até mais, pessoal! J
Por Sabrina Brant Pereira de Jesus
Referências:
Brazil, O.V. Farmacologia do canal do sódio: modo de açäo de toxinas / Pharmacology of the sodium channel: mode of action of toxins. Revista Ciência e Cultura (São Paulo) 38(2):324-8, fev. 1986.
Wang S.Y., Wang G.K. (February 2003). "Voltage-gated sodium channels as primary targets of diverse lipid-soluble neurotoxins". Cellular Signalling 15 (2): 151–9.doi:10.1016/S0898-6568(02)00085-2. PMID 12464386.
Felippe G., Tomasi M.C. (aquarelas). Venenosas - plantas que matam também curam. Editora Senac, São Paulo.

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